"A dívida da Grécia é sustentável"
Desde que a crise rebentou na Grécia, em 2010, foi ministro das Finanças, vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros. Qual é, do seu ponto de vista, o principal problema que o país enfrenta hoje: dívida, défice, sistema partidário polarizado, pobreza, corrupção?
No topo da lista colocaria a política e não a economia. O sistema partidário polarizado é um bom exemplo. A vida política e social grega sofre com a falta de consenso. Isso faz com que haja um terreno fértil para o populismo e a demagogia, distorce a realidade e deixa pouco espaço para que a verdade seja aceite. Porque a verdade pura e dura é difícil de digerir e mentir torna-se mais fácil, especialmente quando se promete mundos e fundos. Todos os outros problemas que referiu dependem da questão política.
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, exige uma conferência internacional sobre a dívida grega e até já houve governantes irlandeses a dizer que a ideia tem o seu mérito. O que pensa dela?
Seria um evento interessante de se assistir, mas há problemas que se mantêm e precisam de solução. A questão é o que fazer no curto prazo. O Syriza deveria começar a pensar nisso e encontrar respostas realistas. Os nossos parceiros do Eurogrupo comprometeram-se a prosseguir com a redução da dívida grega quando a Grécia terminar o seu programa e atingir superávit primário. Fui ministro das Finanças em fevereiro de 2012 e tive um papel importante na operação lançada para cortar na dívida pública detida pelo setor privado e para fazer uma reestruturação. Com a operação de envolvimento do setor privado, conseguimos um corte sem precedentes de 180 mil milhões da dívida. Hoje, atingimos os objetivos fixados pelo Eurogrupo e agora devemos prosseguir com o acordado: estender o pagamento da dívida, reduzir as taxas de juro e muitas outras intervenções técnicas. Tudo junto perfaz um grande corte, porque afeta o volume da nossa dívida, torna-a mais sustentável. Porque, tecnicamente falando, a dívida da Grécia é sustentável, pois pagamos agora menos 60% pelo serviço da dívida do que em 2010 e isso é como ter reduzido a dívida em mais 60%. É aqui que discordo do Syriza, que diz que a dívida é insustentável porque a Grécia nunca será capaz de pagá-la. Mas qual é o país que paga a sua dívida? O elemento que torna a dívida sustentável é a capacidade de um país colocar dívida e refinanciá-la.